Dupla afirmação de matéria e tempo, a palavra condensa o que de essencial se passa nas metamorfoses do humano. Pelas palavras se difundem os fluxos que determinam o nosso pensar e agir, por elas o homem se sabe sem definição, transitório. E sabe-se igualmente prematuro. Porque há as palavras antes de si. E a vida é urgência de encontrar essas palavras anteriores, sempre anteriores e sempre futuras num espaço de «devir como simultaneidade». Antes da narrativa há as palavras. Antes da comunidade e antes do mundo há as palavras. Palavras que o homem usa como moeda desvalorizada e que a sua necessidade de domínio, objectividade, lhe faz esquecer sob o imperialismo dos factos. Mas palavras que deflagram no dizer poético, vindas de outros, para outros. E não substituem objectos desaparecidos: são onde fica a possibilidade do homem, a possibilidade de se dirigir ao outro homem.




Teoria da Des-possessão  (Averno 063)